A cabeça da gente prega umas peças estranhas, ainda mais pra gente que é meio doida como eu, ainda mais pra gente que tem problema crônico de insônia, como eu.
Aliás, terminei ontem de ler The Friend, da Sigrid Nunez, e gostei tanto dele quanto do What are you going through, de que falei no texto passado. Ambos tem tradução para o português aliás, O amigo e O que você está enfrentando. O amigo conta a história de uma mulher, professora de escrita literária, que herda do amigo e ex mentor um enorme cachorro dinamarquês, após este amigo cometer suicídio. E é escrito dirigido a este amigo que morreu, embora o fluxo da escrita derive. Um livro lindo, sobre escrita, sobre luto, sobre amizade, sobre estranhamento, sobre cachorros. Em um dado momento, a narradora comenta que em muitos textos dos alunos e narrativas de ficção em geral, a história começa com alguém acordando, mas raramente termina com alguém indo dormir.
Ontem a noite, sem conseguir dormir, fiquei me perguntando como seria uma história que começa com alguém indo dormir. É fácil pensar em uma história que começa com insônia talvez. Mas com sono nem tanto. Sem conseguir dormir, aliás, assisti Oppenheimer, que achei médio. Acho que os cortes rápidos servem pouco à narrativa, sendo mais histriônicos do que o personagem. E meio tediosa a versão do gênio meio atormentado e dilemas pessoais/ políticos. Superem essa fantasia masculinista, por favor.
Entre essas questões, no meu quarto de airbnb em São Paulo, comentei com um amigo que esqueci porque vim para São Paulo. Estou participando esta semana do 22° Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia, no gt sobre literatura e sociedade, com um trabalho sobre a trilogia do fim, de Ana Paula Maia, de quem já falei aqui no substack. Meu trabalho pode ser baixado no site do evento, mas acho que tem umas coisas ainda mal resolvidas nele.
Mas, além da molecagem acadêmica de me infiltrar no congresso dos sociólogos ( e, obviamente, participação com trabalho em evento acadêmico é parte dos meus encargos docentes) eu tinha motivos pessoais para tirar uns dias e vir para São Paulo. E passei o dia ontem tentando lembrar quais eram, no voo.
Só lembrei hoje de manhã. E vou solenemente ignorar este motivo. Por isso, eu havia esquecido dele. Nem devia ter lembrado.
Adorei. Fiquei curiosa com os livros. E adorei você ter esquecido o motivo de São Paulo. Por muito tempo, não quis ir a São Paulo. Depois quis, e me alegro toda vez que vou, porque muitos amigos mudaram pra lá. E fiz outros de lá mesmo. Cidades com amigos, melhores cidades.